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Principais publicações de Wyckoff e a revista The Magazine of Wall Street

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A produção editorial de Richard D. Wyckoff correspondeu à primeira tentativa de documentar, de maneira sistemática, a relação oferta‑demanda em gráficos de preço e volume. Sua revista converteu‑se no canal de maior circulação sobre mercados dos Estados Unidos pré‑Grande Depressão, enquanto os livros ofereceram camadas crescentes de profundidade para públicos distintos. Juntas, essas obras sedimentaram a base conceitual que hoje sustenta não apenas o “Método Wyckoff”, mas boa parte do vocabulário da análise técnica moderna.

Richard D. Wyckoff não foi apenas um investidor de sucesso e pioneiro na leitura de fluxo de ordens; foi, sobretudo, um editor prolífico. Entre 1907 e 1934 ele construiu um ecossistema editorial que incluía uma revista de circulação nacional, vários livros influentes, um curso por correspondência e dezenas de boletins semanais. Este subcapítulo reconstrói, de forma fiel às fontes primárias, a história dessas publicações e demonstra como elas serviram de veículo para difundir o método que hoje chamamos de “Teoria de Wyckoff”.

 A gênese da Magazine of Wall Street

➨ Fundação e primeiro nome

Em novembro de 1907, em meio à crise bancária que culminou no Pânico de 1907, Wyckoff lançou o periódico The Ticker, Vol. 1, n.º 1, distribuído a partir da 42 Broadway. Poucos meses depois, ao perceber que o nome podia sugerir um boletim meramente mecânico, ele rebatizou a publicação como The Magazine of Wall Street ainda no volume 1. O registro digitalizado do primeiro número encontra‑se no Internet Archive, preservando o cabeçalho “The Ticker” com data de novembro de 1907.

➨ Missão editorial e público‑alvo

A revista nasceu com o objetivo declarado de “traduzir o pulso do pregão ao investidor comum”. Era dirigida tanto a profissionais quanto a leigos endinheirados do meio‑oeste norte‑americano, que careciam de relatórios independentes sobre ações e debêntures. Num tempo em que o Wall Street Journal ainda era essencialmente um diário de cotações, Wyckoff oferecia análises sintéticas, quadros de volume, contagens de ponto‑e‑figura e, sobretudo, comentários de tape reading extraídos da sua própria observação da fita. O leitor assinante recebia edições mensais de cerca de 60 páginas, além de circulares semanais pagas à parte.

➨ Crescimento meteórico

Graças a um estilo direto, recheado de exemplos e “insiders’ stories”, a revista alcançou mais de 200 000 assinantes na década de 1920, volume extraordinário para publicações financeiras da época. Esse alcance permitiu que Wyckoff contratasse uma equipe de analistas, cartões perfurados para estatísticas e até gráficos impressos em rotogravura – tecnologias de ponta naquele período.

➨ Conteúdo recorrente

Os números eram organizados em seções fixas:

Pulse of the Market: comentários de curto prazo com foco em volume e preço.

Investment Digest: resenhas de balanços e debêntures de ferrovias.

Market Technique: colunas didáticas que depois formariam o livro Stock Market Technique.

Interviews & Personalities: perfis de operadores célebres (ex.: a famosa entrevista de 1909 com W. D. Gann publicada no Ticker and Investment Digest).

➨ Disputa societária e declínio

Em 1926, após problemas de saúde, Wyckoff afastou‑se da rotina editorial. Dois anos depois perdeu o controle acionário da revista para a segunda esposa, Cecelia G. Shear, recebendo em troca US$ 500.000 em bônus corporativos. Sem o fundador, a linha editorial passou a enfatizar “stock tips” agressivos, o que fez a circulação cair na primeira metade dos anos 30, até ser vendida a novos proprietários em 1935.

 Livros e cursos de Wyckoff

A seguir, apresentamos as principais obras, em ordem cronológica.

Studies in Tape Reading (1909/1910): Primeira obra a sistematizar a leitura de volume e preço em tempo real, introduzindo conceitos como “clímax de venda” e “teste de oferta”. Influenciou direta­mente Humphrey B. Neill e Bernard Baruch.

How I Trade and Invest in Stocks and Bonds (1922; ed. especial 1924): Publicado originalmente em 1922 e reimpresso em 1924 pela própria Magazine of Wall Street, o livro combina autobiografia e caderno prático de operações. Wyckoff revela critérios de seleção de ações, gestão de risco e psicologia de piramidagem.

Wall Street Ventures and Adventures Through Forty Years (1930): Esta autobiografia, lançada pela Harper & Brothers, oferece um panorama interno dos bastidores de Wall Street de 1888 a 1928, com perfis de J. P. Morgan, Jesse Livermore e Harriman. Além de relatos saborosos, preserva correspondências originais e gráficos desenhados à mão.

The Richard D. Wyckoff Method of Trading and Investing in Stocks – A Course of Instruction in Stock Market Science and Technique (1931): Concebido como curso por correspondência em dois volumes de 400 páginas cada, imprime 200 gráficos ponto‑e‑figura e exercícios de autoavaliação. O material era enviado em fascículos semanais mediante mensalidade de US$ 60 (equivalente a ~US$ 1 200 de 2025).

Stock Market Technique (Volumes 1‑3, 1933): Compilação dos melhores artigos da coluna “Market Technique” publicados entre março de 1932 e julho de 1933. Cada volume traz cerca de 120 páginas com estudos de caso, tabelas de contagem P&F e correspondência de leitores.

Tape Reading and Market Tactics (1932): Embora frequentemente atribuído apenas a Wyckoff, a edição definitiva foi preparada por Humphrey B. Neill, reunindo trechos do curso de 1931 mais comentários de mercado de 1932. O livro detalha o método “Três Passos” para o tape reader: identificar a tendência imediata, reconhecer esforço versus resultado e sincronizar tamanho da posição ao contexto de volume.

Artigos, panfletos e exposés
– “Bucket Shops and How to Avoid Them” – série de artigos na Saturday Evening Post (1922), denunciando corretoras que manipulavam cotações.
– Boletim “Pulse of the Market” – circular semanal vendida avulsa entre 1919‑1925.
– Palestras mimeografadas – distribuídas a alunos do Stock Market Institute a partir de 1931.

 Inter‑relações entre as obras

Em retrospecto, as publicações de Wyckoff formam um percurso didático coerente:
– Observação empírica (Studies in Tape Reading)
– Aplicação pessoal (How I Trade…)
– Síntese narrativa (Wall Street Ventures…)
– Curso formal (Método 1931)
– Material de apoio e atualização (Stock Market Technique e Tape Reading and Market Tactics)

Esse arcabouço alimentava a revista mensal, que por sua vez gerava novos leitores para os livros – um ciclo editorial baseado em conteúdo premium e comunidade, décadas antes do conceito moderno de funil de vendas.

 Impacto acadêmico e de mercado

Padronização de termos: conceitos como Composite Man, Absorção, Clímax de Venda foram popularizados na Magazine of Wall Street e replicados em jornais como Journal of Commerce nos anos 20.

Legado didático: os fascículos do curso de 1931 foram adotados por Robert Evans (SMI) nos anos 50 e, mais tarde, digitalizados pela Wyckoff Stock Market Institute.

Influência contemporânea: técnicas de contagem P&F ensinadas no Stock Market Technique foram ressuscitadas em softwares modernos como o ATAS, que menciona explicitamente a cronologia das obras de Wyckoff.

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