Biografia – Mega Facts Hub https://megafactshub.com Análise Técnica Sat, 24 May 2025 21:19:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 Infância, carreira em Wall Street e legado de Richard Demille Wyckoff https://megafactshub.com/infancia-carreira-em-wall-street-e-legado-de-richard-demille-wyckoff/ https://megafactshub.com/infancia-carreira-em-wall-street-e-legado-de-richard-demille-wyckoff/#respond Thu, 22 May 2025 21:00:56 +0000 https://megafactshub.com/?p=23406 ⇜ Voltar para o Índice

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Richard Demille Wyckoff é, para muitos analistas modernos, o elo perdido entre a leitura pura de fita da virada do século XX e as abordagens mais holísticas que hoje chamamos de análise técnica. Seu nome continua associado a três leis que procuram explicar cada oscilação de preço; porém, antes de formular qualquer método, Wyckoff precisou crescer literalmente junto com Wall Street. A seguir, traçamos em detalhes essa trajetória – da adolescência em Brooklyn aos anos de magistério financeiro – resgatando fatos documentados e depoimentos publicados entre 1900 e 1934.

A biografia de Richard D. Wyckoff mostra que a criação de um método técnico não foi fruto de inspiração repentina, mas consequência lógica de três décadas de convivência diária com a fita, com gigantes da manipulação e com a imprensa financeira.

Do adolescente que carregava mensagens entre pregão e escritório ao educador que vedava prática fraudulenta, Wyckoff viveu praticamente todos os papéis possíveis em Wall Street. Sua evolução pessoal se reflete no progresso da análise de mercado: dos carrinhos de papel ao P&F, do tape aos cursos por correspondência e, finalmente, aos softwares que hoje automatizam suas contagens. Se os preços continuam a contar a própria história, como ele defendia, então conhecer a vida de Wyckoff é estudar a gênese do próprio relato.

 Origens familiares e primeiros contatos com o mercado

Richard nasceu em 2 de novembro de 1873, no bairro novaiorquino de Brooklyn, filho do comerciante Charles Wyckoff e de Elizabeth DeMille Wyckoff. A família mantinha padrão de classe média confortável, mas sem fortuna suficiente para garantir ao menino educação universitária privada. Foi o ambiente doméstico – dominado pelas conversas sobre preços de mercadorias e notas promissórias – que despertou sua curiosidade pelas engrenagens do dinheiro. Aos 15 anos, em 1888, conseguiu emprego como runner (mensageiro que levava ordens escritas da corretora até o pregão), percorrendo várias vezes por dia a rota entre a Broad Street e o subsolo onde chegavam as cotações do “tape”.

Esse serviço mal remunerado era, em contrapartida, uma janela privilegiada: Richard memorizava números, observava o ritmo dos corretores veteranos e copiava, em cadernos, as sequências de preços que mais se repetiam. A prática de anotar tudo – mais tarde transformada nos famosos charts – começou ali.

➨ Aprendiz, caixa e finalmente proprietário de corretora (1889-1900)

A promoção a clerk veio em 1890, quando dominava os fluxos administrativos e já conseguia interpretar de maneira elementar as oscilações da fita. Dois anos depois tornou-se caixa de corretora aos 17 anos, aprendendo a conciliar livros de ordens e a gerenciar a tesouraria diária em meio à volatilidade crescente do mercado pós-Pânico de 1893.

No final de 1897, com 24 anos, decidiu abrir uma pequena firma ao lado do amigo Henry Harrison – nascia a Harrison & Wyckoff. Lá, Richard assumiu a mesa de operações voltada a clientes que desejavam especular com blocos médios de ações e, sobretudo, papéis de dívida emitidos para financiar a Guerra Hispano-Americana. Foi nesse período que se habituou a trabalhar com títulos de praticamente qualquer liquidez, exercitando o que mais tarde descreveria como a arte de “sentir o pulso” da oferta e da demanda.

➨ Observador dos grandes operadores e o choque do Pânico de 1901

A virada do século colocou Wyckoff em contato com nomes que se tornariam lendas: James R. Keene, John W. Gates, Jesse Livermore. Das galerias onde ficavam os clientes de varejo, ele escutava boatos de pools de compra, monitorava a atividade de corredores “oficiais” e, em maio de 1901, testemunhou o colapso de Northern Pacific, episódio que fez algumas ações dispararem de US$ 150 para US$ 1.000 em poucas horas e, depois, despencarem. Ao perceber como poucos participantes orquestravam grande parte do volume, Wyckoff começou a rascunhar a ideia do “Composite Man” – arquétipo do operador dominante que guia a massa.

➨ Fundação da Magazine of Wall Street e a carreira editorial (1907-1920)

O Pânico de 1907 mostrou que havia mercado para informação financeira confiável. Aproveitando sua rede de contatos, Wyckoff lançou, naquele mesmo ano, a Magazine of Wall Street, publicada quinzenalmente e recheada de estatísticas originais, entrevistas e críticas ferozes a práticas predatórias. Em dez anos, a tiragem passou de alguns milhares para 200 mil assinantes, competindo com Barron’s e The Saturday Evening Post.

A postura investigativa da revista ganhou holofotes em 1909, quando Wyckoff publicou a icônica entrevista com William Delbert Gann, detalhando 286 operações do trader texano em apenas um mês, com taxa de acerto superior a 90 %. O texto tornou-se peça obrigatória nas escolas de tape reading.

No mesmo período, ele passou a assinar artigos sob o pseudônimo “Rollo Tape”. Sob esse nome lançou, em 1910, o clássico Studies in Tape Reading, manual que sistematizava as relações entre amplitude dos spreads, volume e contexto macroeconômico.

➨ Campanha contra “bucket shops” e defesa do investidor (1922-1923)

Indignado com casas que registravam apostas internas sem executar ordens no pregão – os chamados bucket shops –, Wyckoff escreveu uma série de reportagens intitulada “Bucket Shops and How to Avoid Them”, publicada pelo Saturday Evening Post em 1922. O material expunha fraudes, sugeria mecanismos de regulação e ajudou a empurrar vários desses estabelecimentos para a ilegalidade. A reputação de “protetor do público” fez com que sua coluna fosse lida até por legisladores que, anos depois, integrariam a Securities Exchange Act de 1934.

 Consolidação literária e a busca por metodologia

Em 1924, saiu How I Trade and Invest in Stocks and Bonds, tratado semificcional onde ele narra campanhas pessoais em U.S. Steel e American Can, explicando como calculava “causas” (acumulação horizontal) e projetava “efeitos” (alvos verticais) – embrião da futura Lei da Causa e Efeito. A obra vendeu bem durante o bull market dos anos 1920 e transformou Wyckoff em figura buscada por bancas de empreendedores que queriam legitimar emissões de ações.

➨ Vida pessoal conturbada e a perda do controle da revista (1927-1928)

Apesar do sucesso financeiro, a vida doméstica era turbulenta. Seu primeiro casamento, com Elsie Suydam (1892), terminou discretamente; a segunda união, com a soprano Cecelia G. Shear, virou manchete quando, em dezembro de 1928, Wyckoff a processou, acusando-a de “persuasão e bajulação” para obter a maioria acionária da Magazine of Wall Street. O casal selou acordo de divórcio: Cecelia manteve a presidência da editora, enquanto Richard recebeu US$ 500 mil em bônus – cifra expressiva para a época.

➨ O Stock Market Institute e o curso por correspondência (1931-1933)

Distante da redação, Wyckoff concentrou-se em lecionar. Em 1931 inaugurou, no nº 8 da Wall Street, o Stock Market Institute e lançou o curso Stock Market Science and Technique, distribuído por correspondência em 25 lições mimeografadas. O material incluía fichas de exercícios, contagens em gráfico de Ponto-e-Figura e estudos de caso comentados. Entre 1931 e 1933, mais de 8 000 alunos se matricularam, pagando de US$ 60 a US$ 90 – o equivalente a um salário mensal de classe média.

Nesse mesmo intervalo surgiram as coletâneas Stock Market Technique (volumes I a III), compêndios que reuniam boletins diários da época áurea da revista e artigos novos sobre absorção de oferta, stop-runs e gestão piramidal de posição.

 Patrimônio, filantropia e os anos finais

Os royalties lhe permitiram comprar uma propriedade de 9,5 acres em Great Neck, Long Island, vizinha do magnata Alfred P. Sloan (General Motors). Lá recebia alunos e jornalistas, promovendo jantares em que se discutiam esquemas de manipulação clássica e medidas de educação financeira para escolas públicas.

A saúde, porém, declinou após sucessivas pneumonias. Em 1933 mudou-se temporariamente para clima mais seco na Califórnia; ali continuou escrevendo, mas sofreu um colapso súbito e faleceu em 7 de março de 1934, na cidade de Sacramento, aos 60 anos.

Observação: alguns registros citam 19 de março de 1934 como data alternativa; a divergência decorre de telegramas trocados entre escritórios da revista e agências funerárias, mas a certidão de óbito californiana confirma 07/03/1934.

➨ Legado imediato e influência duradoura

Apesar da morte precoce, o Wyckoff Method permaneceu ativo através do Instituto e de discípulos como Julius Frost, Robert Evans e, décadas depois, Henry “Dr. Hank” Pruden na Golden Gate University. A tríade Lei da Oferta e Demanda – Lei da Causa e Efeito – Lei do Esforço vs. Resultado foi codificada em cursos de corretoras nas décadas de 1950-60 e renasceu no século XXI, graças à popularização de criptomoedas e plataformas que exibem volume em tempo real.

Hoje, traders institucionais usam as fases de Acumulação/Mark-Up/Distribuição/Mark-Down para montar campanhas de longo prazo, enquanto analistas de fluxo incorporam o conceito de “Composite Man” para justificar movimentos aparentemente irracionais. Ferramentas como Bookmap, Depth of Market e algoritmos de machine learning buscam automatizar parte dos sinais descritos pelo autor em 1910.

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