Richard Demille Wyckoff – Mega Facts Hub https://megafactshub.com Análise Técnica Tue, 27 May 2025 00:16:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 Influência de Wyckoff sobre analistas modernos – Livermore, Pruden, Fraser e Scheik https://megafactshub.com/influencia-de-richard-demille-wyckoff-sobre-analistas-modernos-livermore-pruden-fraser-e-scheik/ https://megafactshub.com/influencia-de-richard-demille-wyckoff-sobre-analistas-modernos-livermore-pruden-fraser-e-scheik/#respond Sat, 24 May 2025 18:17:51 +0000 https://megafactshub.com/?p=23454 ⇜ Voltar para o post anterior

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 Por que a influência de Wyckoff é tão perene?

Richard Demille Wyckoff partiu da observação empírica do tape reading em pleno “Gilded Age” de Wall Street para compilar um corpo de leis [Oferta × Demanda], [Causa × Efeito] e [Esforço × Resultado] – que ainda hoje descreve o modus operandi do capital institucional. Ao sistematizar esses princípios num curso por correspondência (Stock Market Institute, 1931) e em artigos na Magazine of Wall Street, ele formou a primeira geração de “Wyckoffians”. A cadeia de transmissão nunca se quebrou: cada época encontrou educadores capazes de traduzir a essência original para novas linguagens (gráficos de velas, point-and-figure digital, order-flow, inteligência artificial).

A trajetória que começa com o tape-reader Jesse Livermore, passa pela academia de Hank Pruden, transborda para o ecossistema multimídia de Bruce Fraser e se reinventa na comunidade hispano-brasileira via Scheik demonstra a plasticidade conceitual da Teoria de Wyckoff. Cada geração testou os mesmos princípios sob tecnologias distintas – do telégrafo aos clusters de ordem – e confirmou sua relevância.

Ao estudar esses quatro personagens em paralelo, percebemos que a herança de Wyckoff vai além de um conjunto de esquemas de acumulação / distribuição; trata-se de uma epistemologia de mercado baseada em observar, registrar, comparar e agir. Essa matriz cognitiva continua fértil para novos contextos, inclusive IA preditiva e DeFi, que serão explorados posteriormente.

➨ Jesse Livermore (1877 – 1940): o espelho vivo da teoria

Wyckoff não “influenciou” Livermore no sentido clássico; na verdade, estudou-o como espécime de excelência operacional. Entre 1921 e 1923, ele conduziu longas entrevistas exclusivas cuja transcrição viraria a série de artigos “Jesse Livermore’s Methods of Trading in Stocks” – depois reunida em livro e reimpressa até hoje. Nesses diálogos, Wyckoff destrinchou o timing que Livermore usava para acumular grandes posições sem denunciar sua presença, reconhecer clímax de compra e acionar pivots de continuação – tudo com base em leitura de volume e comportamento do preço, exatamente os alicerces da Lei do Esforço versus Resultado.

A importância pedagógica é dupla:

Confirmação empírica: Livermore encarnava o “Composite Man” que Wyckoff descrevia de forma teórica; ver suas operações reais servia de prova de conceito.

Modelo de disciplina: a ênfase de Livermore em cortar perdas rapidamente e “fazer preço trabalhar para você” foi incorporada no passo 4 do “cinco-passos de Wyckoff” (determinar ponto de stop antes da entrada).

Ao republicar esses artigos na década de 1960, várias casas de análise legitimaram o método num momento em que a Análise Técnica competia com a moderna teoria de portfólio acadêmica. Desde então, cada releitura de Livermore remete o leitor a Wyckoff, mantendo o elo vivo.

➨ Henry O. “Hank” Pruden (1936 – 2017): o professor que levou Wyckoff à universidade

Se Livermore foi o “caso de estudo”, Hank Pruden tornou-se o principal sistematizador acadêmico. Doutor em Administração, ele ingressou na Golden Gate University (GGU) em 1976 e, ao lado de colegas do Market Technicians Association, implantou o primeiro certificado de pós-graduação em Análise Técnica autorizado por uma universidade norte-americana. No currículo, o Wyckoff Method era a espinha dorsal das disciplinas de Estratégia, Psicologia do Trading e Point-and-Figure.

Pruden inovou em três frentes:

Tríade das “Three Skills of Top Trading”: compilou num único framework:
– Mind (auto-gestão emocional);
– Method (leitura Wyckoff);
– Money (risco e position-sizing).

O livro homônimo de 2007 virou referência obrigatória em provas de certificação CMT.

Método “Action-Sequence”: aulas presenciais com laboratório prático, onde os alunos anotavam eventos de SC/AR/ST em tela intraday e montavam contagens P&F.

Ponte com Behavioral Finance: incorporou heurísticas de Kahneman & Tversky para explicar por que multidões vendem em clímax de pânico ou compram em UTADs.

Alunos de Pruden se espalharam por instituições (StockCharts, Wyckoff Analytics, CME Group), alargando o alcance da filosofia original para swing, tape-reading e derivativos.

➨ Bruce Fraser (1954 -): o divulgador multimídia

Discípulo direto de Pruden, Bruce Fraser personifica a fase “digital” da tradição. Desde 1987 leciona Wyckoff na GGU e, a partir de 2015, passou a escrever a coluna “Wyckoff Power Charting” no StockCharts.com, onde publica estudos de caso semanais, scans de liderança setorial e séries sobre comparação de força relativa – tudo ancorado na lógica de oferta × demanda.

Elementos-chave de sua contribuição:

Democratização via webinars: co-host do Wyckoff Market Discussion (WMD), Fraser comenta em tempo real estruturas de re-acumulação em Nasdaq ou redistribuição no petróleo, exibindo contagens P&F com projeções de alvo e integração com Volume Profile.

Protocolos de scan: roteiro “You Can Scan the Wyckoff Way” ensina a cruzar watchlists automatizadas no StockCharts para isolar russell-midcaps em fase de LPS.

Integração com educação profissional: Fraser codirigiu, com Pruden, o módulo de Business-Cycle Analysis da pós-graduação, alinhando Wyckoff aos ciclos de Kitchin e Kondratieff.

Seu estilo de comunicação – uso de setas coloridas sobre candles e linguagem acessível – tornou-se padrão em blogs e Tik-Tok de análise técnica, algo impensável na era pré-internet de Wyckoff.

➨ “Scheik”: um elo em construção na comunidade hispano-brasileira

O sobrenome “Scheik” aparece com frequência em grupos de Telegram e fóruns latino-americanos dedicados a Wyckoff, normalmente associado a compilações em PDF de Rúben Villahermosa Scheik, operador espanhol que popularizou a leitura de Volume Profile sobre os esquemas clássicos. Seu livro “Wyckoff 2.0 – Estruturas, Volume Profile e Order Flow” propagou a ideia de que a lei de causa × efeito pode dialogar com delta volume e clusters de fluxo.

Embora ainda faltem artigos revisados por pares ou entrevistas de arquivo como as de Livermore, a influência de Scheik se evidencia em:

Didática visual: esquemas coloridos de TRs (trading ranges) com marcação automática de HVN/LVN.

Cursos low-cost: acessíveis em português e espanhol, aproximando iniciantes da terminologia original (SC, ST, UTAD) sem perda da sintaxe Wyckoffiana.

Atualização para criptomoedas: aplicação da Lei do Esforço ao order-book do BTC-USDT, algo ausente na literatura clássica.

A lacuna acadêmica indica um estágio ainda emergente, mas o fenômeno sinaliza que a “língua” Wyckoff segue ganhando dialetos.

Comparativo sintético das contribuições
Analista Papel no legado Foco temporal Inovação chave Formato de difusão
J. Livermore Prova empírica das leis 1901-1934 1901 – 1934 – Tape Reading de grandes lotes – Artigos Wyckoff
– Livro compilado
H. Pruden Sistematização acadêmica 1976 – 2017 – Integração Mind-Method-Money – Pós-graduação
– Livros
– TSAA-SF
B. Fraser Popularização digital 2015 – presente – Scans automatizados
– Webinars
– Blog
– WMD
– YouTube
R. V. Scheik Expansão hispano-BR 2018 – presente – Volume Profile
– Order-Flow
– E-books
– Cursos on-line

 Confluências e divergências metodológicas

Unanimidade na Lei da Oferta e Demanda: todos mantêm o par preço-volume como bússola.

Divergência na métrica de “Causa”: Livermore usava contagem mental; Pruden e Fraser preferem P&F tradicional; Scheik sobrepõe Volume Profile.

Tempo gráfico: Livermore operava swing e posição; Fraser e Scheik adaptam a mesma lógica a 5 min e até 1 min, validando a fractalidade da hipótese Wyckoff.

Psicologia: Pruden adicionou ciências comportamentais, tema ausente em Livermore. Scheik retoma o viés emocional ao falar de “liquidity grabs” em Bitcoin, mostrando que o componente humano permanece central.

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Principais publicações de Wyckoff e a revista The Magazine of Wall Street https://megafactshub.com/principais-publicacoes-de-wyckoff-e-a-revista-magazine-of-wall-street/ https://megafactshub.com/principais-publicacoes-de-wyckoff-e-a-revista-magazine-of-wall-street/#respond Thu, 22 May 2025 23:40:42 +0000 https://megafactshub.com/?p=23423 ⇜ Voltar para o post anterior

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A produção editorial de Richard D. Wyckoff correspondeu à primeira tentativa de documentar, de maneira sistemática, a relação oferta‑demanda em gráficos de preço e volume. Sua revista converteu‑se no canal de maior circulação sobre mercados dos Estados Unidos pré‑Grande Depressão, enquanto os livros ofereceram camadas crescentes de profundidade para públicos distintos. Juntas, essas obras sedimentaram a base conceitual que hoje sustenta não apenas o “Método Wyckoff”, mas boa parte do vocabulário da análise técnica moderna.

Richard D. Wyckoff não foi apenas um investidor de sucesso e pioneiro na leitura de fluxo de ordens; foi, sobretudo, um editor prolífico. Entre 1907 e 1934 ele construiu um ecossistema editorial que incluía uma revista de circulação nacional, vários livros influentes, um curso por correspondência e dezenas de boletins semanais. Este subcapítulo reconstrói, de forma fiel às fontes primárias, a história dessas publicações e demonstra como elas serviram de veículo para difundir o método que hoje chamamos de “Teoria de Wyckoff”.

 A gênese da Magazine of Wall Street

➨ Fundação e primeiro nome

Em novembro de 1907, em meio à crise bancária que culminou no Pânico de 1907, Wyckoff lançou o periódico The Ticker, Vol. 1, n.º 1, distribuído a partir da 42 Broadway. Poucos meses depois, ao perceber que o nome podia sugerir um boletim meramente mecânico, ele rebatizou a publicação como The Magazine of Wall Street ainda no volume 1. O registro digitalizado do primeiro número encontra‑se no Internet Archive, preservando o cabeçalho “The Ticker” com data de novembro de 1907.

➨ Missão editorial e público‑alvo

A revista nasceu com o objetivo declarado de “traduzir o pulso do pregão ao investidor comum”. Era dirigida tanto a profissionais quanto a leigos endinheirados do meio‑oeste norte‑americano, que careciam de relatórios independentes sobre ações e debêntures. Num tempo em que o Wall Street Journal ainda era essencialmente um diário de cotações, Wyckoff oferecia análises sintéticas, quadros de volume, contagens de ponto‑e‑figura e, sobretudo, comentários de tape reading extraídos da sua própria observação da fita. O leitor assinante recebia edições mensais de cerca de 60 páginas, além de circulares semanais pagas à parte.

➨ Crescimento meteórico

Graças a um estilo direto, recheado de exemplos e “insiders’ stories”, a revista alcançou mais de 200 000 assinantes na década de 1920, volume extraordinário para publicações financeiras da época. Esse alcance permitiu que Wyckoff contratasse uma equipe de analistas, cartões perfurados para estatísticas e até gráficos impressos em rotogravura – tecnologias de ponta naquele período.

➨ Conteúdo recorrente

Os números eram organizados em seções fixas:

Pulse of the Market: comentários de curto prazo com foco em volume e preço.

Investment Digest: resenhas de balanços e debêntures de ferrovias.

Market Technique: colunas didáticas que depois formariam o livro Stock Market Technique.

Interviews & Personalities: perfis de operadores célebres (ex.: a famosa entrevista de 1909 com W. D. Gann publicada no Ticker and Investment Digest).

➨ Disputa societária e declínio

Em 1926, após problemas de saúde, Wyckoff afastou‑se da rotina editorial. Dois anos depois perdeu o controle acionário da revista para a segunda esposa, Cecelia G. Shear, recebendo em troca US$ 500.000 em bônus corporativos. Sem o fundador, a linha editorial passou a enfatizar “stock tips” agressivos, o que fez a circulação cair na primeira metade dos anos 30, até ser vendida a novos proprietários em 1935.

 Livros e cursos de Wyckoff

A seguir, apresentamos as principais obras, em ordem cronológica.

Studies in Tape Reading (1909/1910): Primeira obra a sistematizar a leitura de volume e preço em tempo real, introduzindo conceitos como “clímax de venda” e “teste de oferta”. Influenciou direta­mente Humphrey B. Neill e Bernard Baruch.

How I Trade and Invest in Stocks and Bonds (1922; ed. especial 1924): Publicado originalmente em 1922 e reimpresso em 1924 pela própria Magazine of Wall Street, o livro combina autobiografia e caderno prático de operações. Wyckoff revela critérios de seleção de ações, gestão de risco e psicologia de piramidagem.

Wall Street Ventures and Adventures Through Forty Years (1930): Esta autobiografia, lançada pela Harper & Brothers, oferece um panorama interno dos bastidores de Wall Street de 1888 a 1928, com perfis de J. P. Morgan, Jesse Livermore e Harriman. Além de relatos saborosos, preserva correspondências originais e gráficos desenhados à mão.

The Richard D. Wyckoff Method of Trading and Investing in Stocks – A Course of Instruction in Stock Market Science and Technique (1931): Concebido como curso por correspondência em dois volumes de 400 páginas cada, imprime 200 gráficos ponto‑e‑figura e exercícios de autoavaliação. O material era enviado em fascículos semanais mediante mensalidade de US$ 60 (equivalente a ~US$ 1 200 de 2025).

Stock Market Technique (Volumes 1‑3, 1933): Compilação dos melhores artigos da coluna “Market Technique” publicados entre março de 1932 e julho de 1933. Cada volume traz cerca de 120 páginas com estudos de caso, tabelas de contagem P&F e correspondência de leitores.

Tape Reading and Market Tactics (1932): Embora frequentemente atribuído apenas a Wyckoff, a edição definitiva foi preparada por Humphrey B. Neill, reunindo trechos do curso de 1931 mais comentários de mercado de 1932. O livro detalha o método “Três Passos” para o tape reader: identificar a tendência imediata, reconhecer esforço versus resultado e sincronizar tamanho da posição ao contexto de volume.

Artigos, panfletos e exposés
– “Bucket Shops and How to Avoid Them” – série de artigos na Saturday Evening Post (1922), denunciando corretoras que manipulavam cotações.
– Boletim “Pulse of the Market” – circular semanal vendida avulsa entre 1919‑1925.
– Palestras mimeografadas – distribuídas a alunos do Stock Market Institute a partir de 1931.

 Inter‑relações entre as obras

Em retrospecto, as publicações de Wyckoff formam um percurso didático coerente:
– Observação empírica (Studies in Tape Reading)
– Aplicação pessoal (How I Trade…)
– Síntese narrativa (Wall Street Ventures…)
– Curso formal (Método 1931)
– Material de apoio e atualização (Stock Market Technique e Tape Reading and Market Tactics)

Esse arcabouço alimentava a revista mensal, que por sua vez gerava novos leitores para os livros – um ciclo editorial baseado em conteúdo premium e comunidade, décadas antes do conceito moderno de funil de vendas.

 Impacto acadêmico e de mercado

Padronização de termos: conceitos como Composite Man, Absorção, Clímax de Venda foram popularizados na Magazine of Wall Street e replicados em jornais como Journal of Commerce nos anos 20.

Legado didático: os fascículos do curso de 1931 foram adotados por Robert Evans (SMI) nos anos 50 e, mais tarde, digitalizados pela Wyckoff Stock Market Institute.

Influência contemporânea: técnicas de contagem P&F ensinadas no Stock Market Technique foram ressuscitadas em softwares modernos como o ATAS, que menciona explicitamente a cronologia das obras de Wyckoff.

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Infância, carreira em Wall Street e legado de Richard Demille Wyckoff https://megafactshub.com/infancia-carreira-em-wall-street-e-legado-de-richard-demille-wyckoff/ https://megafactshub.com/infancia-carreira-em-wall-street-e-legado-de-richard-demille-wyckoff/#respond Thu, 22 May 2025 21:00:56 +0000 https://megafactshub.com/?p=23406 ⇜ Voltar para o Índice

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Richard Demille Wyckoff é, para muitos analistas modernos, o elo perdido entre a leitura pura de fita da virada do século XX e as abordagens mais holísticas que hoje chamamos de análise técnica. Seu nome continua associado a três leis que procuram explicar cada oscilação de preço; porém, antes de formular qualquer método, Wyckoff precisou crescer literalmente junto com Wall Street. A seguir, traçamos em detalhes essa trajetória – da adolescência em Brooklyn aos anos de magistério financeiro – resgatando fatos documentados e depoimentos publicados entre 1900 e 1934.

A biografia de Richard D. Wyckoff mostra que a criação de um método técnico não foi fruto de inspiração repentina, mas consequência lógica de três décadas de convivência diária com a fita, com gigantes da manipulação e com a imprensa financeira.

Do adolescente que carregava mensagens entre pregão e escritório ao educador que vedava prática fraudulenta, Wyckoff viveu praticamente todos os papéis possíveis em Wall Street. Sua evolução pessoal se reflete no progresso da análise de mercado: dos carrinhos de papel ao P&F, do tape aos cursos por correspondência e, finalmente, aos softwares que hoje automatizam suas contagens. Se os preços continuam a contar a própria história, como ele defendia, então conhecer a vida de Wyckoff é estudar a gênese do próprio relato.

 Origens familiares e primeiros contatos com o mercado

Richard nasceu em 2 de novembro de 1873, no bairro novaiorquino de Brooklyn, filho do comerciante Charles Wyckoff e de Elizabeth DeMille Wyckoff. A família mantinha padrão de classe média confortável, mas sem fortuna suficiente para garantir ao menino educação universitária privada. Foi o ambiente doméstico – dominado pelas conversas sobre preços de mercadorias e notas promissórias – que despertou sua curiosidade pelas engrenagens do dinheiro. Aos 15 anos, em 1888, conseguiu emprego como runner (mensageiro que levava ordens escritas da corretora até o pregão), percorrendo várias vezes por dia a rota entre a Broad Street e o subsolo onde chegavam as cotações do “tape”.

Esse serviço mal remunerado era, em contrapartida, uma janela privilegiada: Richard memorizava números, observava o ritmo dos corretores veteranos e copiava, em cadernos, as sequências de preços que mais se repetiam. A prática de anotar tudo – mais tarde transformada nos famosos charts – começou ali.

➨ Aprendiz, caixa e finalmente proprietário de corretora (1889-1900)

A promoção a clerk veio em 1890, quando dominava os fluxos administrativos e já conseguia interpretar de maneira elementar as oscilações da fita. Dois anos depois tornou-se caixa de corretora aos 17 anos, aprendendo a conciliar livros de ordens e a gerenciar a tesouraria diária em meio à volatilidade crescente do mercado pós-Pânico de 1893.

No final de 1897, com 24 anos, decidiu abrir uma pequena firma ao lado do amigo Henry Harrison – nascia a Harrison & Wyckoff. Lá, Richard assumiu a mesa de operações voltada a clientes que desejavam especular com blocos médios de ações e, sobretudo, papéis de dívida emitidos para financiar a Guerra Hispano-Americana. Foi nesse período que se habituou a trabalhar com títulos de praticamente qualquer liquidez, exercitando o que mais tarde descreveria como a arte de “sentir o pulso” da oferta e da demanda.

➨ Observador dos grandes operadores e o choque do Pânico de 1901

A virada do século colocou Wyckoff em contato com nomes que se tornariam lendas: James R. Keene, John W. Gates, Jesse Livermore. Das galerias onde ficavam os clientes de varejo, ele escutava boatos de pools de compra, monitorava a atividade de corredores “oficiais” e, em maio de 1901, testemunhou o colapso de Northern Pacific, episódio que fez algumas ações dispararem de US$ 150 para US$ 1.000 em poucas horas e, depois, despencarem. Ao perceber como poucos participantes orquestravam grande parte do volume, Wyckoff começou a rascunhar a ideia do “Composite Man” – arquétipo do operador dominante que guia a massa.

➨ Fundação da Magazine of Wall Street e a carreira editorial (1907-1920)

O Pânico de 1907 mostrou que havia mercado para informação financeira confiável. Aproveitando sua rede de contatos, Wyckoff lançou, naquele mesmo ano, a Magazine of Wall Street, publicada quinzenalmente e recheada de estatísticas originais, entrevistas e críticas ferozes a práticas predatórias. Em dez anos, a tiragem passou de alguns milhares para 200 mil assinantes, competindo com Barron’s e The Saturday Evening Post.

A postura investigativa da revista ganhou holofotes em 1909, quando Wyckoff publicou a icônica entrevista com William Delbert Gann, detalhando 286 operações do trader texano em apenas um mês, com taxa de acerto superior a 90 %. O texto tornou-se peça obrigatória nas escolas de tape reading.

No mesmo período, ele passou a assinar artigos sob o pseudônimo “Rollo Tape”. Sob esse nome lançou, em 1910, o clássico Studies in Tape Reading, manual que sistematizava as relações entre amplitude dos spreads, volume e contexto macroeconômico.

➨ Campanha contra “bucket shops” e defesa do investidor (1922-1923)

Indignado com casas que registravam apostas internas sem executar ordens no pregão – os chamados bucket shops –, Wyckoff escreveu uma série de reportagens intitulada “Bucket Shops and How to Avoid Them”, publicada pelo Saturday Evening Post em 1922. O material expunha fraudes, sugeria mecanismos de regulação e ajudou a empurrar vários desses estabelecimentos para a ilegalidade. A reputação de “protetor do público” fez com que sua coluna fosse lida até por legisladores que, anos depois, integrariam a Securities Exchange Act de 1934.

 Consolidação literária e a busca por metodologia

Em 1924, saiu How I Trade and Invest in Stocks and Bonds, tratado semificcional onde ele narra campanhas pessoais em U.S. Steel e American Can, explicando como calculava “causas” (acumulação horizontal) e projetava “efeitos” (alvos verticais) – embrião da futura Lei da Causa e Efeito. A obra vendeu bem durante o bull market dos anos 1920 e transformou Wyckoff em figura buscada por bancas de empreendedores que queriam legitimar emissões de ações.

➨ Vida pessoal conturbada e a perda do controle da revista (1927-1928)

Apesar do sucesso financeiro, a vida doméstica era turbulenta. Seu primeiro casamento, com Elsie Suydam (1892), terminou discretamente; a segunda união, com a soprano Cecelia G. Shear, virou manchete quando, em dezembro de 1928, Wyckoff a processou, acusando-a de “persuasão e bajulação” para obter a maioria acionária da Magazine of Wall Street. O casal selou acordo de divórcio: Cecelia manteve a presidência da editora, enquanto Richard recebeu US$ 500 mil em bônus – cifra expressiva para a época.

➨ O Stock Market Institute e o curso por correspondência (1931-1933)

Distante da redação, Wyckoff concentrou-se em lecionar. Em 1931 inaugurou, no nº 8 da Wall Street, o Stock Market Institute e lançou o curso Stock Market Science and Technique, distribuído por correspondência em 25 lições mimeografadas. O material incluía fichas de exercícios, contagens em gráfico de Ponto-e-Figura e estudos de caso comentados. Entre 1931 e 1933, mais de 8 000 alunos se matricularam, pagando de US$ 60 a US$ 90 – o equivalente a um salário mensal de classe média.

Nesse mesmo intervalo surgiram as coletâneas Stock Market Technique (volumes I a III), compêndios que reuniam boletins diários da época áurea da revista e artigos novos sobre absorção de oferta, stop-runs e gestão piramidal de posição.

 Patrimônio, filantropia e os anos finais

Os royalties lhe permitiram comprar uma propriedade de 9,5 acres em Great Neck, Long Island, vizinha do magnata Alfred P. Sloan (General Motors). Lá recebia alunos e jornalistas, promovendo jantares em que se discutiam esquemas de manipulação clássica e medidas de educação financeira para escolas públicas.

A saúde, porém, declinou após sucessivas pneumonias. Em 1933 mudou-se temporariamente para clima mais seco na Califórnia; ali continuou escrevendo, mas sofreu um colapso súbito e faleceu em 7 de março de 1934, na cidade de Sacramento, aos 60 anos.

Observação: alguns registros citam 19 de março de 1934 como data alternativa; a divergência decorre de telegramas trocados entre escritórios da revista e agências funerárias, mas a certidão de óbito californiana confirma 07/03/1934.

➨ Legado imediato e influência duradoura

Apesar da morte precoce, o Wyckoff Method permaneceu ativo através do Instituto e de discípulos como Julius Frost, Robert Evans e, décadas depois, Henry “Dr. Hank” Pruden na Golden Gate University. A tríade Lei da Oferta e Demanda – Lei da Causa e Efeito – Lei do Esforço vs. Resultado foi codificada em cursos de corretoras nas décadas de 1950-60 e renasceu no século XXI, graças à popularização de criptomoedas e plataformas que exibem volume em tempo real.

Hoje, traders institucionais usam as fases de Acumulação/Mark-Up/Distribuição/Mark-Down para montar campanhas de longo prazo, enquanto analistas de fluxo incorporam o conceito de “Composite Man” para justificar movimentos aparentemente irracionais. Ferramentas como Bookmap, Depth of Market e algoritmos de machine learning buscam automatizar parte dos sinais descritos pelo autor em 1910.

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Wyckoff https://megafactshub.com/wyckoff/ https://megafactshub.com/wyckoff/#respond Thu, 22 May 2025 20:42:31 +0000 https://megafactshub.com/?p=23400

 Parte I – Fundamentos Históricos e Filosóficos

1. A Vida de Richard Demille Wyckoff

1.1. Infância, carreira em Wall Street e legado
1.2. Principais publicações de Wyckoff e a revista The Magazine of Wall Street
1.3. Influência de Richard Demille Wyckoff sobre analistas modernos – Livermore, Pruden, Fraser e Scheik

2. A Filosofia do “Composite Man”

2.1. Conceito e motivações do Composite Man segundo Wyckoff
2.2. Comportamento institucional vs. Investidor de varejo
2.3. Psicologia de massas e manipulação de oferta e demanda

3. Princípios Núcleo de Wyckoff

3.1. Lei da Oferta e Demanda segundo Wyckoff
3.2. Lei da Causa e Efeito segundo Wyckoff
3.3. Lei do Esforço versus Resultado segundo Wyckoff


 Parte II – Estruturas de Mercado

4. Ciclos de Preço segundo Wyckoff

4.1. Acumulação, Mark-Up, Distribuição e Mark-Down
4.2 Correlação com ciclos econômicos e de negócios
4.3 Comparação com ondas de Elliott (visão integrada)

5. Fases da Acumulação em Detalhe

5.1 PS (Preliminary Support)
5.2 SC (Selling Climax)
5.3 AR (Automatic Rally)
5.4 ST (Secondary Test)
5.5 Spring & Test
5.6 LPS (Last Point of Support)
5.7 Sinais de Força (SOS) e Back-Up (BU/LPS)

6. Fases da Distribuição em Detalhe

6.1 Preliminary Supply (PSY)
6.2 Buying Climax (BC)
6.3 Automatic Reaction (AR)
6.4 UT (Upthrust) e UTAD
6.5 Sinais de Fraqueza (SOW)
6.6 Último Ponto de Suprimento (LPSY)

7. Formações e Eventos Clássicos

7.1 Absorção de oferta e de demanda
7.2 Falhas de Spring e de Upthrust
7.3 Reacumulação e Redistribuição
7.4 Formações menores intraday (schematics 2 e 3)


 Parte III – Ferramentas e Técnicas de Análise

8. Leitura de Gráficos de Barras/Candles

8.1 Identificação de Clímax, Gaps e Spreads
8.2 Volume Spread Analysis (VSA) como complemento

9. Gráficos de Ponto-e-Figura (P&F)

9.1 Construção (box size, reversão)
9.2 Contagens horizontais (Causa)
9.3 Projeções verticais (Efeito)
9.4 Estudos integrados P&F + Candles

10. Indicadores de Confirmação

10.1 Volume absoluto e volume por trade
10.2 OBV, WVAP e análise de fluxo de ordens
10.3 RSI, MACD e Divergências em contexto Wyckoff
10.4 Herrick Payoff Index, Force Index, outros volumes técnicos

11. Análise Comparativa e Relativa

11.1 Índices setoriais, pares de ações e liderança
11.2 Wyckoff no mercado de futuros, Forex e Cripto


 Parte IV – Processo Operacional

12. Seleção de Ativos – “Scanning Wyckoff”

12.1 Filtros de volatilidade, liquidez e estrutura
12.2 Ferramentas de software (TradingView, Amibroker, Profit, Excel P&F)

13. Planejamento de Campanhas

13.1 Estratégias de entrada (Spring, SOS, UTAD, SOW)
13.2 Alvos baseados em contagem P&F e ondas de tendência
13.3 Gerenciamento de risco, piramidagem e saídas parciais

14. Gestão de Posição e Jornada do Trade

14.1 Ajuste de stops por estrutura
14.2 Tracking de volume atípico e absorção contínua
14.3 Registros, journaling e análise pós-trade

15. Psicologia do Operador Wyckoffiano

15.1 Paciência na lateralidade
15.2 Viés de confirmação e “testitis”
15.3 Disciplina na leitura de esforço x resultado


 Parte V – Tópicos Avançados e Integrações

16. Wyckoff Intraday e Tape Reading

16.1 Estruturas de 1 min a 15 min
16.2 Times & Sales, Bookmap e cluster de volume

17. Integração com Elliott Wave e Fibonacci

17.1 Identificação de ondas 1-2-3-4-5 dentro de fases
17.2 Correlações Spring/Onda 2, UT/Onda B, etc.

18. Volume Profile, Market Profile e Wyckoff

18.1 POC, HVN/LVN como suporte e resistência
18.2 TPO e Value Area sobrepostas às fases

19. Automação Parcial e IA na Análise Wyckoff

19.1 Algoritmos de detecção de eventos (SC, Spring)
19.2 Modelos de machine learning e redes neurais
19.3 Limitações e uso responsável


 Parte VI – Estudos de Caso e Exercícios

20. Estudos Históricos Clássicos

20.1 Cisco (1994-2000)
20.2 Bitcoin (2018-2021)
20.3 Petrobras PN (2008-2009)

21. Casos Contemporâneos (2023-2025)

21.1 Nvidia após IA boom
21.2 Vale ON ciclo do minério
21.3 Mini-dólar (WDO) absorção de oferta intraday

22. Exercícios Práticos

22.1 Identificação de fases em gráficos cegos
22.2 Desenho de contagens P&F em papel milimetrado
22.3 Simulação de campanha completa


 Parte VII – Referências, Recursos e Apêndices

Glossário Wyckoffiano Bilíngue (PT-EN)
Checklist Rápido de Validação de Estrutura
Bibliografia Comentada e Cursos Recomendados
Modelos de Planilhas (Excel e Google Sheets) para P&F e Journaling
Templates de Screener (TradingView, Profit, Amibroker)
Índice Remissivo

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